Como lidar com traumas instalados?

Muitas pessoas, ao longo da vida, sofrem de lembranças traumáticas que geram medos muitas vezes revividos em situações pós-traumáticas.

Na superação do medo adquirido, algo que não apresenta ameaça alguma, torna-se temido por estar associado, na mente de alguém, a algo assustador. Quem explica esse mecanismo é o especialista em ciências comportamentais Daniel Goleman.

Autor de vários livros sobre o assunto como “Inteligência Emocional”, Goleman explica que o medo pode durar anos pois podemos estar condicionados a ele. Este medo até pode passar com o tempo, por meio de um aprendizado natural à medida em que o objeto temido é vivenciado em circunstâncias diferentes.

Esse medo pode aparecer ao menor sinal de um gatilho qualquer. Goleman relata que não há uma só vez em que o que tememos seja percebido com calma. Para este medo se extinguir, precisamos ter vontade firme e constante toda vez que ele se manifestar. O medo original não some, mas a sua reação a ele perde a intensidade.

A ÓTIMA notícia é que podemos REAPRENDER nossas emoções! Elas podem ser reeducadas e os traumas profundos podem ser curados. E como fazer isso? A rota para esta cura passa pelo reaprendizado.

Quando o trauma é revivido em um ambiente seguro, com um psicólogo ou terapeuta, por exemplo, a memória se repete com baixa ansiedade.

Durante esse processo, acontece a dessensibilização do paciente, permitindo que uma nova formação de respostas não traumatizadas se associe a ele.

Aqui é possível dar a esta memória traumática um “final feliz”, ou seja, ressignificar a memória. O fato não mudará, mas a emoção do fato sim!

Isso possibilitará que o paciente tenha novos comportamentos frente às situações futuras relacionadas ao mesmo trauma. O que antes desestabilizava, agora perde a força.

Por pior que seja o trauma, a única opção de cura é o ENFRENTAMENTO. Goleman diz que este processo tem três etapas, são elas: 

  • Obter uma sensação de segurança (acalmar a memória);
  • Lembrar de detalhes do trauma (conquistar algum senso de controle sobre o que ocorreu);
  • Lamentar a perda que ele trouxe (soltar o aprisionamento da dor do passado e começar a olhar para frente).

Só depois dessas etapas é que podemos restabelecer uma vida normal.

Antidepressivos podem ajudar a bloquear a ativação do sequestro da amígdala, mas técnicas de relaxamento combatem a ansiedade e o nervosismo.

Logo, a calma fisiológica cria novos aprendizados que nos mostram que a vida não é uma ameaça. Isso dá ao paciente a sensação de ter recuperado a segurança que tinha antes da ocorrência do trauma.

A maravilhosa máquina do nosso cérebro transforma o significado emocional e seus efeitos quando a história é reconstruída neste ambiente seguro (psicólogo ou terapeuta com relaxamento) permitindo que os circuitos neurais adquiram uma nova compreensão do fato.

Neste momento, respostas novas, mais realistas à lembrança traumática e seus gatilhos se instalam!

Quando a pessoa revive o trauma (como em um filme) e conta o que viu, sentiu e ouviu, ela fala de forma mais realista possível sobre o trauma e o reaprendizado emocional ocorre.

A nova informação que é instalada neste processo dá segurança ao paciente (e não o terror das memórias do trauma) e assim a força do trauma desaparece.

Assim, o trauma é superado, passando a não exercer mais descontrole nas lembranças do paciente. Ele pode rememorá-lo voluntariamente ou afastá-lo como qualquer outra lembrança, sem dor, descontrole ou medo.

Reconstruir uma nova vida, com relações fortes e de confiança, é um sistema de crenças empoderador, que pode ser conquistado mesmo por quem viveu um trauma.

Isso é possível porque, uma vez que nosso sistema emocional aprende alguma coisa nova, vira um novo hábito e a tendência à impulsividade é suprimida.

É verdade que não podemos impedir que nossa amígdala “dispare”, mas podemos escolher o tempo de duração desta e a resposta que daremos aos fatos. O que provavelmente acontecerá, é que o tempo de recuperação será mais rápido e assim o paciente conquista a maturidade emocional.

Neste processo de reeducação emocional, a reação aos fatos disparados passa a ser menos angustiante, calma e divertida.

As respostas abertas passam a ser mais efetivas e uma nova e saudável resposta passa a ser escolhida, mesmo sentindo o medo raiz que causou o trauma.

Tudo pode ser reformulado!

Este aprendizado é para vida toda!

Claudia Pinheiro
Fonte: Goleman, Daniel • Inteligência Emocional